Inclusão

Dando poder aos consumidores: O futuro das finanças responsáveis

21 de outubro de 2024

Payal Dalal, Vice Presidente Executiva de Programas Globais, Mastercard Center for Inclusive Growth, e Marcelo Tangioni, Presidente Divisao Brasil, Mastercard

A Mastercard participou recentemente de um encontro de ideias e inovações no Fórum de Finanças Responsáveis (RFF), em Fortaleza, Brasil. O evento, que reuniu mais de 120 participantes da Parceria Global do G20 sobre Inclusão Financeira, foi um espaço para diálogo franco sobre questões críticas, como inclusão financeira e infraestrutura pública digital (DPI), e sobre como devem ser essas soluções a medida que nos reunimos para moldar um futuro financeiro equitativo para todos.

A partir dessas discussõess, listamos abaixo algumas observações que queremos compartilhar.

A inovação catalisa a saúde financeira

A "inovação" é mencionada com frequência, mas nas finanças, é mais do que apenas uma palavra da moda; é a base a partir da qual empoderamos os consumidores, redefinindo o design e a entrega de produtos e serviços financeiros.

Ao aderir à iniciativa Open Finance Brasil, empresas como Nubank e Monet apresentaram como estão redefinindo a maneira como as instituições financeiras compartilham dados de clientes com outras instituições para fornecer serviços cotidianos. Imagine receber um alerta indicando que você tem fundos ociosos que poderiam lhe render juros – é um pequeno empurrão que tem o potencial de gerar dividendos substanciais no futuro e melhorar significativamente a saúde financeira de longo prazo de um cliente. Desde agregar saldos em várias contas e desenvolver pontuações de crédito alternativas, até alertar os clientes sobre dinheiro que poderia ser investido, o Open Finance tem o potencial de empoderar os consumidores e trazer benefícios tremendos para populações sem conta bancaria ou sub-atendidas com as ferramentas de que precisam para assumir o controle de seus destinos financeiros.

A inovação pode vir de qualquer lugar, e vimos inúmeras startups que estão aproveitando plataformas digitais para fornecer soluções para desafios emergentes do setor de serviços financeiros em rápida evolução. Tome como exemplo a abordagem da Flourish FI para educação financeira “embutida”. Usando auxilios comportamentais e ferramentas gamificadas, a Flourish FI incentiva os consumidores a adotarem hábitos financeiros saudáveis – tudo isso enquanto aprendem sobre finanças pessoais de maneira envolvente e interativa. Aprendemos com a Flourish FI e outros parceiros digitais que incorporar o design comportamental em plataformas digitais pode permitir que milhões de trabalhadores e pequenos empresários progridam da inclusão financeira para a resiliência e a saúde financeira.

Da mesma forma, a Quipu está fornecendo financiamento para negócios informais, construindo uma plataforma de pontuação de crédito equitativa baseada em Inteligência Artificial. Em toda a América Latina e Caribe, microempreendedores que operam no setor informal enfrentam exclusão sistêmica dos sistemas financeiros formais. A incapacidade de verificar seu histórico financeiro é uma barreira significativa que os impede de acessar canais de crédito formais. Ao fornecer uma plataforma de financiamento que usa benchmarks alternativos para determinar a solvência, como o uso de aprendizado profundo para analisar vídeos e fotos que ajudam a avaliar a saúde de um negócio, a Quipu provou seu modelo com mais de 8.000 tomadores de empréstimos, 52% dos quais são mulheres e 90% dos quais estão na lista negra dos bureaus de crédito, e agora está escalando por meio de parcerias como microfinanceiras e carteiras digitais.

Quando os serviços financeiros são adaptados para atender a necessidades específicas, criamos um sistema financeiro mais resiliente e inclusivo que capacita todos a prosperar.

Os consumidores são o coração dos serviços financeiros

Embora fomentar a inovação seja crucial, ela só funciona quando impulsionada por uma compreensão profunda das necessidades dos consumidores. O Fórum destacou a necessidade de equilibrar a inovação financeira com estruturas regulatórias robustas para garantir que os interesses dos consumidores sejam protegidos e centrais no desenvolvimento de produtos e serviços financeiros.

Aayushi Chaturvedi, Líder de Insights do Consumidor na Consumers International, falou sobre manter os consumidores no centro do desenvolvimento de produtos financeiros. Olhando para os desafios de proteção ao consumidor, como ocultação de preços, cobranças excessivas, cobranças predatórias e aumento de fraudes, Chaturvedi explicou que, para que os produtos financeiros beneficiem genuinamente os consumidores, devemos escrutinar sua capacidade de entregar segurança e saúde financeira. Indo além da adoção, a Consumers International foca no impacto real dos produtos financeiros, que devem ser eficazes e seguros para uso do consumidor.

Insights específicos do consumidor são críticos em todos os mercados e instituições como o Banco Central do Brasil, que estão investindo em pesquisas para entender as barreiras à adoção de plataformas de pagamento digital como o PIX. Mas devemos ir além de identificar essas barreiras, para entender como as plataformas digitais impactam a saúde financeira do consumidor. Só então podemos realmente impulsionar o desenvolvimento de soluções financeiras mais eficazes.

Um estudo recente publicado pela Mastercard e Nubank explorou a jornada dos consumidores além do acesso financeiro em direção à saúde financeira. O estudo, que analisou dados pseudonimizados e agregados de 3,6 milhões de clientes do Nubank, revelou que fornecer acesso a serviços financeiros digitais para populações sem banco e subatendidas pode gerar um impacto econômico e social significativo. Na verdade, 60% dos clientes do Nubank passaram do acesso financeiro para o uso em 24 meses; e 40% dentro de 12 meses, independentemente do nível de renda. Explorar como seus produtos impactam a saúde do consumidor permitiu ao Nubank validar a eficácia de seus serviços, ao mesmo tempo em que identificou áreas para melhoria. Esse compromisso com a melhoria contínua com base no feedback e na experiência do consumidor é a base do futuro das finanças responsáveis.

Criar um sistema financeiro resiliente e sustentável

Para abraçar totalmente a inovação, os sistemas financeiros devem ser construídos para suportar choques enquanto continuam a servir os consumidores de forma eficaz. Embora o Fórum tenha destacado o papel fundamental das estruturas regulatórias para fornecer diretrizes que ainda permitam que a inovação prospere, isso é apenas uma parte da conversa. Para alcançar os resultados desejados para os usuários finais, também devemos voltar nossa atenção para como projetamos os blocos de construção digitais que permitem a entrega de serviços financeiros digitais.

A pesquisa de Dr. Julie Zollman e Nanjira Sambuli sobre as implicações da jornada nascente de DPI do Quênia destacou a confiança excepcionalmente baixa que os cidadãos têm nos mecanismos de responsabilidade do governo e no uso ilegal de dados digitais dos cidadãos. Examinando o que significa promover responsavelmente o DPI, sua pesquisa destacou a importância de habilitar a escolha e encorajar uma abordagem baseada em resultados. Isso não se trata apenas de oferecer mais opções; trata-se de garantir que essas opções levem a melhores resultados financeiros para os consumidores.

À medida que avançamos, é essencial lembrar que, no coração das finanças responsáveis, está o consumidor. Cada inovação, regulamentação e esforço de pesquisa deve, em última análise, buscar a  melhoria da saúde financeira dos consumidores. Ao fazer isso, podemos construir um sistema financeiro que não seja apenas robusto, mas verdadeiramente inclusivo para todos.